Volta e meia surgem histórias curiosas sobre algumas pinturas. Essa é uma delas, e talvez uma das mais gump.
Anos depois de comprar uma casa em Toulouse, na França, o proprietário foi dar uma verificada no imóvel e ao conseguir acessar o sótão que há muito estava trancado, descobriu algo curioso.
Entre caixas de madeira empoeiradas, cadeiras velhas e cacarecos mais diversos, esquecidos pelo tempo, havia uma pintura antiga guardada no sótão. Ela estava coberta de poeira e manchada por um vazamento de água, então parecia improvável que valesse alguma coisa. Mas sabe como é… por “via das dúvidas”, o proprietário resolveu chamar um avaliador de arte, Eric Turquin, baseado em Paris.
Demorou vários anos para obter o relatório, e quando chegou, a notícia foi surpreendente:
O cara tinha acabado de ganhar na loteria sem jogar! A pintura é “Judith and Holofernes”, que se acredita ter sido pintada em 1607. Era nada menos que uma obra-prima perdida de Caravaggio. Diante da notícia bombástica, a França colocou uma proibição de exportação na pintura para impedi-la de sair do país enquanto outras investigações são realizadas.
Em uma coletiva de imprensa, foi anunciado que a pintura após restaurada será leiloada em Toulouse, onde deverá ser vendida por valores estimados em € 150 milhões, ou US $ 171 milhões.
Especialistas estimam que a tela, notavelmente bem preservada, retrata a decapitação do Holofernes por Judite, do livro apócrifo de Judite, que teria sido pintada entre 1600 e 1610. Essa cena descreve uma passagem do Livro de Judite que existem em versões católica romana e ortodoxa oriental do Antigo Testamento, em que Judite seduz um general inimigo em sua tenda antes de decapitá-lo.
“Esta é a maior pintura que já encontrei”, disse Turquin à CNN. “É muito violenta. É quase insuportável. Mas ele é um artista que encarna o texto – ele faz o texto viver ”.
Turquin também disse que a pintura tem “a luz, a energia típica de Caravaggio, sem erros, feita com uma mão segura e um estilo pictórico que a torna autêntica”.
A existência da pintura era conhecida antes de sua descoberta devido a menções a ela em duas cartas datadas de 1607 para o duque de Mântua; uma declaração de 1617 do negociante de arte e pintor Louis Finson; e um inventário imobiliário de Abraham Vinck, da Antuérpia, em 1619, de acordo com o relatório Robb. “Acredita-se que ele tenha sido exposto em algum momento na Antuérpia em 1689, mas desde então não houve nenhuma menção à pintura até sua recente descoberta, escondida nesse pequeno sótão francês empoeirado.”
As pinturas de Caravaggio tem características únicas de uma luz teatral dramática. A proibição de exportação significa que esta pintura não pode deixar o país por 30 meses enquanto é estudada, e permitirá que museus nacionais franceses tenham tempo suficiente para comprá-la. O Museu do Louvre já passou três semanas estudando essa obra. A pintura aparece em um inventário da propriedade de um homem chamado Abraham Vinck, realizado na Antuérpia em 1619. Depois de 1619, o destino da pintura se tornou um mistério, embora de acordo com a galeria Colnaghi, poderia ter sido mostrada ma Antuérpia novamente anos depois, em 1689. “Não sabemos para onde foi depois de 1689”, disse Turquin.
O próprio Caravaggio levou uma vida violenta e notória. Quando o artista morreu com a idade de 39 anos em 1610, alguns disseram que era de malária, outros sífilis, outros ainda que ele foi envenenado por seus inimigos.
O artista era particularmente apaixonado por lutar. Um cronista escreveu:
Depois de uma quinzena de trabalho, ele se arrogará por um ou dois meses com uma espada ao seu lado e um servo seguindo-o, de uma quadra para a outra, sempre pronto a entrar em uma briga ou discussão, de modo que é muito difícil se dar bem com ele.
As pinturas de Caravaggio revolucionaram a arte com sua atraente combinação de anatomia humana realista e intenso uso da luz.
Caravaggio é talvez por isso, mas não apenas, considerado o maior representante do estilo barroco. Grande mestre na arte de manipular o jogo de luz e sombra, que confere um enorme grau de complexidade à sua obra. O grande valor dessa descoberta do sótão em parte se traduz por serem poucos os quadros de Caravaggio que sobreviveram até os dias de hoje. Por segurança, não é permitido transportar mais de dois Caravaggios num mesmo avião. Em terra, as obras viajam também em duplas, sempre sob escolta armada. Existem 62 ao todo, e alguns deles ainda passam por avaliação de especialistas para que o período de produção e as condições em que foram realizados sejam comprovados. A obra Medusa Murtola, por exemplo, era considerada uma cópia até recentemente. Só ao fim de trabalhos que duraram 20 anos – com sofisticadas análises em infravermelho – é que sua autenticidade foi enfim, comprovada.
Enfim, uma dica preciosa para quem compra imoveis antigos, sempre dê uma olhada, pois pode haver um tesouro bem debaixo do seus pés. Ou como neste caso, sobre a sua cabeça.
Por quê o primeiro e o último quadro são diferentes, apesar de mostrar a mesma cena?
Tenho um tio com um violino “strativarios” SIC no seu sótão, herdou de uma tia alemã que não teve filhos.
O detalhe é que ele não quer vender, não se sente à vontade de exibi-lo e ainda, não sabe tocar o instrumento. Kkk
É preciso autenticar, dizer que tem stradivarius tem um monte de gente que alega, mas é que no século XIX fizeram um porrilhão de falsificações dele.