Eu estava fazendo um chá e enquanto esperava a água esquentar fui até a janela e fiquei olhando as nuvens lá do céu pela janela da cozinha. E me lembrei de uma das histórias que eu contava para o Davi.
O Davi nunca foi uma criança comum no sentido de gostar de ouvir histórias. Ele queria sempre histórias de um mesmo personagem, um menino chamado Zezeco (que era muito bagunceiro e muito desobediente). E assim, todas as noites, por ANOS E ANOS eu precisava inventar uma ou duas histórias (uma grande ou duas pequenas) do Zezeco para contar pra ele antes de dormir. Chegou num ponto, que eu já odiava o tal Zezeco com todas as minhas forças, e comecei a inventar parentes. O primeiro foi o Teteco, o irmão mais novo do Zezeco que era o oposto dele. Se Zezeco era bagunceiro, Teteco era calmo e medroso. Zezeco é impetuoso, meio doido, golpista, 171, mentiroso, e Teteco praticamente um santo na Terra.
Obviamente, Davi gostava muito mais do Zezeco!
As histórias tinham as regras próprias: Sempre começavam do mesmo jeito e sempre terminavam igual, com um “…e acabooou a história!” Eu não podia ler. Ler era “golpe”. Eu tinha que inventar na hora, a história tinha que ser boa, precisava ter um pico dramático, uma resolução adequada, e de preferência eu precisava interpretar personagens, fazendo vozes e um bom roleplay.
Depois, veio o Lilico, que era o primo mais velho dos Zezeco e Teteco, vieram o pai e a mãe (sempre coadjuvantes), e então, eu puxei também o Stanley, que era um cientista maluco, nos moldes do Doc Brown. O Stanley não era meu, porque o Stanley foi meu pai que inventou e ele contava pra mim e para os meus irmãos as aventuras do Stanley quando éramos pequenos.
Então eu achei legal meter o Stanley nas aventuras do Zezeco, com maquinas do tempo, campos de força, maquinas de ficar invisível, castelos e coisas do tipo. Ele também tinha uma função definida na estrutura da jornada do herói, atuando como mentor e trazendo sempre um presente mágico ou tecnológico para resolver a treta. Muitas vezes ele também era quem introduzia a aventura, pedindo ao Zezeco para comprar alguma coisa, ou consertar algo ou simplesmente tomar conta do castelo quando ele viajava.
As histórias que faziam grande sucesso eram as histórias com pum, com escorregão no cocô e coisas assim…
E tinham os personagens que vinham fazer pontas na história do Zezeco.
Se o Homem aranha está na moda, ele aparece nas histórias. Se é o Batman, Zezeco luta com o Coringa… E às vezes eu testava meus limites e os dele, jogando histórias mais sombrias para o Zezeco, com zumbis e seres sinistros que saíram do armário dele, como o fantasma do pirata Barba Negra que lutou espada com o Zezeco em cima da cama… mas Davi não tinha medo nem pesadelos. Nunca. Sempre dormiu como uma pedra. Eu inventei tantas, mas tantas histórias desses personagens que poderia lançar uma coleção de livros gigantesca só com elas.
Nesse video, uma das histórias, onde Zezeco causa uma confusão na cidade, sem querer.
Eu testei nessa um narrador com um tom de voz de avô com Inteligência Artificial. Esse narrador se chama Merlin.
Hoje Davi está grande, pensa em futebol e namoradas e muito provavelmente só se lembrará do Zezeco e sua turma quando chegar a vez dele contar histórias para os meus netos.
Quando eu era criança, nunca tivemos essa tradição de contar histórias para dormir. Eu via em filmes, desenhos, mas era um coisa que não me fazia falta. Mas eu sempre gostei de criar. Talvez, quando eu tiver meus filhos, eu inicie a tradição