Tem gente que exagera até nas piores ideias. Um caso particularmente incomum do uso prolongado de quantidades excessivas de ecstasy mostrou que a droga pode causar efeitos colaterais prejudiciais e desagradáveis persistentes.
Uma equipe de médicos da St George’s Medical School, em Londres, relatou o caso de “Sr. A” – um homem de 37 anos que chutou o pau da barraca e usou grandes quantidades de ecstasy entre 21 e 30 anos, porque ele queria ser cool.
Deu ruim.
Durante os primeiros 2 anos de uso da droga, ele tomou 5 comprimidos todo fim de semana. Nos 3 anos seguintes, ele começou a tomar uma média de 3,5 comprimidos por dia e, nos 4 anos posteriores, passou para uma média de 25 comprimidos por dia.
Os médicos calcularam que apenas nesses 9 anos ele tomou mais de 40 mil comprimidos – 38 mil a mais do que o recorde anterior de consumo de 2 mil comprimidos na vida. Isso foi confirmado por registros de outra clínica que ele frequentou há vários anos.
O cara decidiu parar de tomar ecstasy depois de 3 desmaios em festas e então começou a ter sintomas desagradáveis de abstinência.
“Durante vários meses ele sentiu como se ainda estivesse sob a influência do êxtase e sofreu vários episódios de ‘visão de túnel'”, diz o relatório. “Ele acabou desenvolvendo ataques de pânico graves, ansiedade intermitente, depressão, rigidez muscular (especialmente no nível do pescoço e mandíbula), alucinações funcionais e ideação paranoica”.
Ecstasy era só uma das drogas no menu do cara
Além de tomar ecstasy, “Sr. A” tinha um histórico de uso de solventes, benzodiazepínicos, anfetaminas, LSD, cocaína, heroína e maconha, embora no momento de sua internação no Hospital St. George, a única substância que ele usava continuamente era maconha.
Depois de reduzir o uso de cannabis, suas alucinações e paranóia desapareceram e seus ataques de pânico diminuíram. No entanto, muitos outros sintomas permaneceram.
“A avaliação das habilidades funcionais cotidianas revelou as principais consequências comportamentais de sua perda de memória (ou seja, repetição de ações várias vezes). Embora o Sr. A fosse capaz de entender completamente as instruções dadas, sua concentração e atenção estavam tão prejudicadas que ele não conseguia seguir a sequência de tarefas exigidas.”
A equipe médica considerou que o homem tinha uma deficiência de memória global e ele foi submetido a uma ressonância magnética. Mas este exame não revelou nenhum problema estrutural com o cérebro. A memória do paciente melhorou depois que ele foi admitido na unidade de lesão cerebral, onde aprendeu estratégias de compensação usando a plasticidade neural.
No entanto, os médicos acreditam que este caso é uma evidência adicional de que os distúrbios causados pelo uso prolongado de ecstasy não foram eliminados com a descontinuação da droga por longos períodos de tempo.
“Todos os usuários de ecstasy desenvolvem síndrome serotoninérgica (principalmente leve) após o uso agudo da droga, que é caracterizada por aumento da atividade física, hipertermia e sudorese, aumento da rigidez muscular, rabdomiólise, hiperreflexia, trismo, apertamento dos maxilares, mioclonia, tremor e nistagmo”. diz o relatório.
E embora estes sejam sintomas de intoxicação aguda, eles podem explicar porque o homem permaneceu com rigidez muscular, principalmente da mandíbula, depois de tomar a droga por tanto tempo em altas doses.
Ao mesmo tempo, a visão de túnel, que ele relatou logo após parar de usar MDMA, era, até onde os médicos sabem, um fenômeno único e ainda sem explicação. O caso continua sob análise.