domingo, dezembro 22, 2024

A verdadeira ilha do governador

Sempre pensei que a Ilha do Governador fosse aquele lugar lá perto do aeroporto do Galeão, onde fica a UFRJ e etc. Realmente, é la mesmo que fica a ilha do Governador, vide o que nos ensina o Google maps:

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A Ilha do Governador era originalmente a terra do Índio Arariboia (Não, não é Niterói. Niterói ele ganhou quando praticou um genocídio para os portugueses) e segundo a Wikipedia seu nome é bem antigo:

O nome “Ilha do Governador” surgiu somente a partir de 5 de setembro de 1567, quando o governador-geral do então Estado do Brasil (e interino da Capitania do Rio de Janeiro) Mem de Sá doou ao seu sobrinho, Salvador Correia de Sá (o Velho – Governador e Capitão-general da Capitania Real do Rio de Janeiro de 1568 a 1572), mais da metade do seu território. Correia de Sá, futuro governador da capitania, transformou-a em uma fazenda onde se plantava cana-de-açúcar, com um engenho para produção de açúcar, exportado para a Europa nos séculos XVI, XVII e XVIII.

Então, se você, como eu, acha que esta é a Ilha do Governador, acertou, mas poderá se surpreender de saber que existe outra!

A outra ilha do Governador

Essa ilha se chama Ilha do Brocoió (nome não mais estranho do que feio). Ela fica no interior da Baía de Guanabara, pertinho de outra ilha famosa, a Ilha de Paquetá. Ela está tão perto que dá pra ir à nado. São só 300 metros uma da outra.

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Essa tal ilha do Brocoió, era originalmente constituída por duas pequenas ilhas interligadas, e foi primitivamente utilizada como um presídio para os indígenas rebeldes. Posteriormente foi explorada como caieira, material de construção essencial à época do Brasil Colônia. Porém, na década de 1930, a ilha que a essa altura pertencia a Octávio Guinle, foi urbanizada.

Octávio Guinle era o dono do Copacabana Palace. Um ricaço na época, herdeiro de uma fortuna bilionária e tio do Jorginho, o cara que queimou toda a herança da família em presepadas e morreu duro.

O Octávio Guinle mandou fazer diversos aterros que alteraram significativamente a geografia da ilha – algo que hoje seria impossível fazer devido ao controle ambiental, e agora a ilha compreende aproximadamente 200.000 m² de superfície.

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Na ilha, o ricaço mandou edificar uma casa nababesca. Porém, a família Guinle desfrutou de sua ilha apenas por cerca de uma década. Em 1944 a Prefeitura do então Distrito Federal, na gestão de Henrique Dodsworth, comprou a ilha por seis milhões de cruzeiros para ser de propriedade do governo do Estado do Rio de Janeiro. Agora a casa e a ilha encontram-se tombadas pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (INEPAC).

No casarão está o Palácio de Brocoió, utilizado como residência alternativa pelo Governador do Estado (que por acaso eu nunca tinha ouvido falar que existe, até achar esta ilha pelo satélite e ir lá – em Paquetá – para dar uma olhada ao vivo. Creio que o Governador nunca vá lá, ou se vai, ninguém divulga).

Você sabia que o Governador do RJ tem uma “residência de praia”?  Nem eu.

A jóia da ilha do Brocoió é sua mansão em estilo normando, com projeto do arquiteto francês Joseph Gire, o mesmo autor do projeto do Copacabana Palace.

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Empregando materiais importados da França e de Portugal, a edificação apresenta um porão e dois pavimentos residenciais, acrescidos de um sótão. A parte residencial compreende três salas, varanda, hall com pé direito duplo, seis quartos, cinco banheiros, copa, cozinha, despensa, três quartos de empregados e banheiros de praia.

Além da residência principal, a ilha dispõe de outras benfeitorias como casa para o administrador, depósito de materiais, estufa, abrigo para lanchas, pier, viveiro de peixes e até um lago.

Pelo que eu levantei, pesquisando na internet, em todo seu tempo no governo, Sergio Cabral nunca pisou lá e chegou até a cogitar passar a ilha para o Eike Batista explorar como um hotel. O problema da Ilha é que a Baía de Guanabara virou um lixão. De que adianta um palácio cercado pelo chorume? Ninguém quer. Nem o Eike.
Mas com uma possível despoluição da Baía de Guanabara, a coisa melhoraria, com certeza.

Entre os muitos hóspedes ilustres estão o físico italiano Guglielmo Marconi, inventor do rádio, o ator australiano Errol Flynn e o presidente Getúlio Vargas, que esteve lá em 1936.

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O mato está alto em alguns trechos da ilha, de 200 mil metros quadrados, e os jardins planejados por Gire, foram gravemente descaracterizados. O casarão estava sem manutenção havia muito tempo. Hoje parece que falta água na ilha e os funcionários precisam ir até Paquetá para poderem tomar banho. Uma coisa ridícula a forma como tratamos o patrimônio histórico, ainda mais numa cidade com tantos turistas como o Rio… Fosse em um país sério, a ilha seria muito visitada e melhor explorada, bem como Paquetá, que está horrivelmente sucateada. Faz pensar que é verdade quando dizem que o prefeito e governador só pensam na Zona Sul.

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O palácio vem sendo reformado aos poucos, em ritmo de obra de igreja, como convém a um estado pobre coo o Rio (sarcasmo). As instalações elétricas, telhado e pintura foram recuperados numa primeira fase de obras, iniciada há um ano, que custou R$ 755 mil. A previsão do governo é concluir a segunda etapa, estimada em R$ 2,6 milhões e preparar a ilha para que possa ser visitada pelo público (já que o novo governador também não parece interessado em nadar na Baía de Guanabara, hahaha).

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De acordo com o secretário de Estado da Casa Civil, Regis Fichtner, a visitação será gratuita. “Não tem sentido que um lugar tão importante fique entregue à ação do tempo e, muito menos, fechado, sem uso”, disse. “Além da beleza arquitetônica, trata-se de uma joia de grande valor histórico. Por isso, tomamos a decisão de fazer essa reforma e, em seguida, abrir a ilha ao público.”

Pelo menos isso, né?

Além do paisagismo dos jardins e da garagem de barcos, o mobiliário e o imenso órgão alemão do palacete serão restaurados, segundo o projeto. A ilha também deverá ganhar um heliponto. Dentro da casa, de quatro pavimentos e cinco quartos, mais dois de serviço, chamam a atenção os pisos de mármore português, os lustres art déco, os mosaicos árabes e o banheiro da suíte principal, com banheira e pias esculpidas em pedras únicas de mármore de Lioz amarelado. O estilo da casa é europeu, com telhas francesas e mansardas (janelas que saem do telhado), um contraste em meio à vegetação tropical – no térreo, há até uma lareira.

“É um Rio que o carioca não conhece. Um lugar bucólico, para lazer e descanso”, disse o arquiteto Eduardo Valdetaro, que fiscaliza as obras, no caminho do casarão até a sede da administração e a estação de barcos, de onde se vê a Ilha de Paquetá (a 300 metros) e, ao fundo, o Dedo de Deus, na Serra dos Órgãos. Do outro lado da ilha, a vista é das montanhas do Rio, bem de longe, com a ponte Rio-Niterói na frente.

Brocoió tem quatro funcionários. Roberto Pires Ferreira, de 69 anos, começou a trabalhar lá em 1958. Conviveu com muitos governadores. “O tempo do Carlos Lacerda (1960-65) foi muito bom. O Brizola (Leonel Brizola, março de 1983-março de 1987 e março de 1991-abril de 1994) era espetacular. Já o Moreira Franco (março de 1987-março de 1991) nem dava bom dia”, contou.

A família de Anthony Garotinho foi a última a frequentar o local, nas administrações dele e da mulher, Rosinha Matheus, antecessora de Cabral. Em dezembro de 2002, uma empresa de telefonia alugou a ilha e levou 3 mil convidados para uma festa que terminou com show de Gilberto Gil. Dois anos depois, ladrões invadiram o palacete e roubaram quadros antigos. Hoje a piscina é uma eficiente máquina de fazer mosquito.

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“Dá pena ver isso aqui fechado. A gente abre as janelas todos os dias para sair o cheiro de mofo”, disse Rubem Antônio Rosa, de 64 anos, 40 de Brocoió.

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A propósito, a palavra “Brocoió”, é de origem indígena, e significa “sussurros”. Hoje esse som é ouvido, porque a ilha é completamente silenciosa. Só o barulho das folhas das incontáveis árvores e os latidos de Guri, o cachorro do administrador de Brocoió, Paulo Roberto Ribeiro, são ouvidos no silêncio da casa vazia. Nos áureos tempos, o som do grande órgão alemão no alto da escada de madeira enchia os salões e — dizem — era ouvido até em Paquetá. Dentro dele, ainda há um vasto acervo de partituras clássicas que, encaixadas num mecanismo do instrumento, eram executadas automaticamente.
Do subsolo ao sótão, há outras surpresas: no andar inferior, um banheiro de praia, usado após o banho de mar como entrada independente, ostenta mosaicos com motivos árabes (está precisando de reparos) e há até um bar. Ao lado dele, as enormes cozinha, copa e despensa, com desenhos no piso. No hall principal, de pé-direito duplo, a atração é a claraboia. A luz suave chega ao salão de estar, que tem, de um lado, a sala de jantar e, de outro, a de leitura. Os três cômodos têm boiseries (painéis de madeira adornados por molduras) nas paredes e bonitos móveis de época.

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Mas é no andar de cima, o dos quartos, que está o ambiente de mais personalidade da casa: o banheiro art déco da suíte do governador, com uma vista deslumbrante para o Rio. A banheira, escavada num bloco maciço de mármore de Lioz, domina o ambiente amarelo, com direito a torneiras de bronze na forma de pássaros, influência do art nouveau. A suíte tem dois quartos e um escritório, onde Carlos Lacerda adorava despachar.
As dependências que abrigaram tantas festas e nomes ilustres dão asas ao imaginário dos moradores de Paquetá, acostumados a ver Brocoió de longe. As noitadas promovidas por Neuzinha Brizola, filha do político, são das mais lembradas. (faça ideia da razão)

Veja um tour pelo Palácio:

Até o momento em que faço este post a ilha não está aberta ao público. A joia permanece se deteriorando na solidão.

Fonte fonte fonte

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Philipe Kling David
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Philipe Kling David, autor de mais de 30 livros, é editor do Mundo Gump, um blog que explora o extraordinário e o curioso. Formado em Psicologia, ele combina escrita criativa, pesquisa rigorosa e uma curiosidade insaciável para oferecer histórias fascinantes. Especialista na interseção entre ciência, cultura e o desconhecido, Philipe é palestrante em blogs, WordPress e tecnologia, além de colaborador de revistas como UFO, Ovni Pesquisa e Digital Designer. Seu compromisso com a qualidade torna o Mundo Gump uma referência em conteúdo autêntico e intrigante.

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Comentários

  1. Bom texto. Atualmente eu moro na Ilha. Se lembro do que li, o primeiro nome da Ilha do Governador era Ilha do Maracajá. Maracajá é um tipo de gato selvagem que dava na ilha e diz a lenda que Pedro I vinha aqui caçá-los. A maldade é que não sobrou nenhum pra contar história. Só ficou a Pedra da Onça, que é uma estátua do felino em cima de uma pedra. Deve ser porque o Maracajá era um tipo de onça em miniatura.

    Esse país de merda não preserva nada. Como capital do Império Português por quinze anos (a única capital de um país europeu fora da Europa) o Rio podia explorar muito mais sua história do ponto de vista turístico. Veja que acabaram com a primeira estrada de ferro do país, que partia de Magé até Raiz da Serra, a caminho de Petrópolis, usada por Pedro II e família rumo a sua “casinha” na montanha. Fora o Centro velho da capital cada dia mais destruído para se construir monstros de aço e vidro. Até no subúrbio estão caindo casas e pequenos prédios dos anos 20 e 30 para aplacar a sanha do boom imobiliário que assolou o Rio nesses anos de Copa e Olimpíadas. Esse vai ser o real legado da cidade, poucos ganhando muito e muitos só ficando com as aporrinhações de uma cidade inchada.

    Niterói não está muito diferente. Morei lá quado era zoada como um lugar pra se comer mulher feia ou quando se falava que o melhor de Nikiti era a vista para o Rio. Depois do propalado quarto lugar em qualidade de vida, foi um tal de construir desenfreadamente. Lembro de um predinho de esquina na Tavares Macedo que tinha uns três andares que foi demolido pra subir um prédio de uns vinte andares. Icaraí ficou um inferno, tu já sai da garagem com o engarrafamento na porta em dias da semana.

    Paquetá, morreu…. Favelizaram a porra toda, nem parece aquele lugar bucólico que se ia pra passar um domingo agradável, andar a pé ou de bicicleta. Foi pro saco, infelizmente.

    A Ilha também tem prédios subindo, mas como há limite de três pavimentos, não fazem aqueles gigantes de mil pavimentos. O que está sumindo são casas e terrenos que estão sendo usados para construção. O resultado é que em certos dias e horários tem rush dentro da Ilha.

    Gente demais, carros demais, uma bosta.

  2. Phelipe, que post fantástico, adoro assuntos relativos a arquitetura antiga, principalmente as do nosso Brasil e do Rio. Foi um presente esse post.
    No mais queria comentar sobre uma mesquita, sim um templo muçulmano, que está abandonada há muito tempo, no meio do mato em algum ligar em Jacarepaguá, aqui no Rio, não consigo achar muita coisa na internet, mas há algumas fotos, de longe, é um lindo prédio com um estilo antigo, bem parecida com as mesquitas lindas que se encontra lá fora.
    O que mais me espanta é que hoje no Rio há apenas uma mesquita em uso, na Tijuca e nao e muito grande e nem de estilo clássico como essa outra, a comunidade muçulmana bem que podia fazer alguma coisa com lugar!
    Se der ,e vc gostar é claro, faça um post sobre ela, ia ser muuuuuito maneiro!
    Bjos
    Juju

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