Ontem estava tomando banho e pensando em qual seria o próximo personagem que eu iria esculpir. Após pensar sobre o assunto alguns minutos, percebi que não estava afim de fazer mais um monstro. Não que eu não goste, eu AMO esculpir monstros e de longe é o que eu prefiro fazer em escultura. Mas eu não faço só monstros, lógico.
Como eu já falei aqui antes, não curto fazer personagens alheios, como super heróis ou personagens de games, (o que é bom por me deixar fora do alvo dos processos) pois prefiro criar meus próprios personagens.
Resolvi então que faria algo de ficção científica, como um robô ou coisa do tipo. Mas então, parei novamente e percebi que minha vibe (odeio esse termo) vontade era de fazer uma outra coisa.
Fiquei pensando naqueles astronautas da ficção científica clássica dos anos 50 e já estava prestes a fazer um, quando comecei a viajar na ideia de fazer um “deus astronauta” do tipo que daria tesão no Erich Von Däniken.
Todo mundo está ligado naquela teoria meio louca de que astronautas alienígenas vieram à terra no passado e foram interpretados como sendo deuses pelos povos primitivos, e o legal dessa teoria é que quando você começa a fuçar algumas culturas primitivas, surgem certas personagens que parecem confirmar muito isso, como o “Bep Kororoti“, um personagem que possivelmente veio do espaço, e é interpretado por um índio vestindo um traje muito parecido com o de um astronauta durante o ritual em que o Bep visita a aldeia.
Por si só, o Bep Kororoti já serviria de tema para um post, porque é muito louco que um povo indígena tão primitivo quanto os Kaiapós tenham tirado do nada a história desse personagem, que lhes ensinou, entre muitas coisas, a agricultura.
Ok. Não vai dar pra resistir:
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A história do Bep Kororoti
Em 1952, João Américo Peret traduziu uma lenda de 700 anos da tribo Kaiapó que habita o sul do Pará, às margens da floresta Amazônica.
Ele não só se surpreendeu com os fatos, mas também com os trajes típicos, com o qual os índios se vestem para comemorar o evento. Aqui está a lenda:
“Nosso povo vivia em uma grande planície muito longe daqui, de onde podiamos ver a cordilheira Pukato-Ti, cujos picos foram sempre escondidos pela névoa da incerteza, e que continuam assim até hoje. (…) Um dia chegou à aldeia um visitante desconhecido, chamado Bep-Kororoti. Ele veio da cordilheira Pukato-Ti e usava um bo (traje) , cobrindo-o dos pés à cabeça. Na mão ele carregava uma kop, e com ela foi jogando raios da arma em toda a aldeia. As pessoas fugiram e os homens aterrorizados corriam para proteger as mulheres e crianças. Alguns tentaram rejeitar o intruso, mas suas armas eram inadequadas contra ele.
Cada vez que um dos guerreiros tocavam o Bep-Kororoti, ele caía imediatamente abatido. O Bep parecia se divertir vendo a fragilidade do povo da aldeia e para dar uma demonstração de força, levantou a Kop e apontando sucessivamente a uma árvore e uma pedra, destruiu ambos.
Assim, todos entenderam que Bep-Kororoti queria mostrar-lhes seu poder, e que não veio para fazer a guerra.
Então, por um tempo, não houve grandes problemas. Os bravos guerreiros da tribo tentaram resistir, mas finalmente foram vendo que o Bep-Kororoti não era mau. Ele também não incomodava ninguém. Aos poucos os índios foram se sentindo atraídos por ele. Sua beleza, a brancura e brilho de sua pele, sua afetuosidade e bondade para com todos gradualmente cativaram as pessoas. Todos estavam experimentando uma sensação de segurança com ele e gradualmente tornaram-se amigos.
Bep-Kororoti começou a aprender com o povo índio. Quis aprender a manusear as armas dos índios a aprender a arte da caça. No final, o seu progresso tinha sido tão grande que chegou a superar o mais valente guerreiro kaiapó. E foi assim que em pouco tempo, Bep-Kororoti foi aceito como um guerreiro e casou-se com uma índia. Eles tiveram vários filhos e uma filha a quem chamaram Niopouti.
Bep-Kororoti era mais esperto do que os outros e logo começou a ensinar coisas desconhecidas para essas pessoas. Ele ensinou os homens a construir uma ng-obi (uma escola), esta associação masculina com que agora temos todas as nossas aldeias. Neles, os homens contam suas aventuras para jovens para que eles aprendam como se comportar para os perigos e foram formando o seu julgamento. Bep-Kororoti era um professor.
Nos ofícios NG-obi foram feitas e as armas foram melhoradas, e tudo o que devia ao grande guerreiro do cosmos. Foi ele quem fundou a “Casa Grande”, onde grandes assuntos tribais eram discutidos e, assim, obtinha-se uma organização melhor, o que facilitou a vida e obra de todos. Muitas vezes, os jovens estavam relutantes em ir para ng-obi. Então Bep-Kororoti pegou seu bo e foi em busca dos rebeldes obrigando-os a fazer o seu dever.
Quando a caça era difícil, Bep-Kororoti trouxe sua kop e matou animais sem machucá-los. Sempre o caçador tinha o direito de reservar para si a melhor presa, mas não o Bep-Kororoti. Ele não comia o alimento da aldeia, apenas exigia que alimentassem sua família.
Mas à medida que os anos passaram, Bep-Kororoti começou a se comportar de forma diferente. Começou a preocupar os outros, queria ficar em sua cabana. Quando ele deixava a sua morada estava sempre focado nas montanhas de Pukato-Ti, de onde tinha vindo. (aparentemente ele estava em depressão)
Um dia, ele já não podia mais resistir ao seu anseio e deixou a aldeia. Ele reuniu a família, só faltou Nio-Pouti, que estava fora da aldeia e partiu apressadamente. Os dias se passaram e Bep-Kororoti não apareceu. Até que um dia ele apareceu novamente na praça da aldeia e lançou um grito terrível de guerra. Todo mundo achava que ele estava louco e tentaram acalmá-lo, mas ele resistiu à todos que tentaram se aproximar dele.
Bep-Kororoti não usou sua arma, mas o seu corpo tremia e ele foi subjulgado por muitos índios. A luta durou dias. Bep Kprotroti conseguiu se desvencilhar e fugiu, sendo que os índios o perseguiram até o cume da montanha. E lá algo terrível aconteceu que deixou todo mundo com medo.
Bep-Kororoti voltou às primeiras esporas da cordilheira. Com a sua kop destruiu tudo o que tinha ao seu redor. Quando ele chegou ao cume da serra, ela havia sido devastada pela sua arma. Em seguida, houve uma tremenda explosão que abalou toda a região e Bep-Kororoti desapareceu no ar em nuvens de fogo, fumaça e trovão. A terra foi sacudida arrancando as raízes das plantas, explodindo árvores, e deixou os frutos silvestres em ruínas.
A floresta desapareceu e assim a tribo começou a sentir fome.
NioPouti, filha de Bep-Kororoti, que havia se casado com um guerreiro e tinha dado à luz um filho, disse ao marido que ela sabia onde poderiam encontrar comida para todas as pessoas, mas que só ele deveria acompanhá-la para as montanhas de Pukato-Ti.
Tendo em conta as origens da mulher, o marido de Nio-Pouti, tomou coragem e foi para a região de Pukato-Ti com ela. Após a chegada, Nio-Pouti abordou a região Mem-Baba-Kent-Kre onde procurou uma árvore especial e sentou-se em seus ramos com seu filho no colo. Em seguida, ela pediu ao marido para puxar os galhos para baixo até os dedos dos pés tocaram o chão.
Quando isso aconteceu, houve uma grande explosão e Nio-Pouti desapareceu em nuvens, fumaça e poeira, relâmpagos e trovões.
O marido esperou alguns dias, foi desmoralizado e estava prestes a morrer de fome quando de repente deu um barulho e ele viu que a estranha árvore estava de volta em seu lugar original. Sua surpresa foi grande; lá estava novamente sua esposa e o Bep-Kororoti. Eles traziam consigo grandes cestos cheios de comida diferente do que ele já tinha visto.
Depois de algum tempo, Bep- Kproroti sentou-se na grande árvore e ordenou novamente a flexão dos seus ramos para o solo. Houve uma explosão e a árvore desapareceu de novo no ar. Nio-Pouti voltou com o marido para a cidade e divulgou uma mensagem Bep-Kororoti onde ele dizia que todos deveriam migrar e construir uma nova aldeia em Mem-Baba-Kent-Kre, onde encontrariam comida.
Nio-Pouti acrescentou que deveriam guardar as sementes de frutas, verduras e arbustos até a estação chuvosa e depois plantá-las para ter uma nova safra. Esse foi o começo a agricultura dos Kaiapós. O povo emigrou para Pukato-Ti e viveu lá em paz; as cabanas das aldeias tornaram-se cada vez mais numerosas e, desde as montanhas, elas pareciam tocar o horizonte.
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Então coisas mais ou menos parecidas aparecem num vasto leque de culturas antigas, e é um fato claro que um índio jamais entenderia uma nave como sendo uma nave. Uma nave vista por um individuo primitivo seria descrita como o símbolo mais próximo do conhecimento dele, e talvez isso explique porque Bep-Kororoti desapareceu numa árvore em meio a explosões barulho e fumaça.
Seja como for, esses “deuses astronautas” são um campo de especulação interessante e até divertido. Fui dar uma olhada nas esculturas misteriosas e muitas delas realmente lembram muito trajes espaciais.
Resolvi que faria um busto, e esse busto seria de uma fêmea alienígena. Busquei referências diversas para compor minha deusa espacial.
Não quis nada como olhos de aliens tipo grey. Pensei numa face meio humana mesmo, mas com uma cabeça alongada, como a dos egípcios e povos antigos pré-colombianos.
Quanto ao traje, eu não queria uma coisa que parecesse uma escultura como essas aí de cima. A razão disso é obvia. A escultura de um suposto deus espacial será desenvolvida por um artesão primitivo, numa tentativa de interpretar aquele traje. Assim, pensei em puxar a brasa para um lado mais sci-fi, com uma tecnologia mais próxima do que conhecemos como traje espacial futurista, mas mantendo ainda um ou outro detalhe que marque que aquilo não é uma roupa comum.
Então eu queria uma roupa de astronauta que parecesse alienígena, mas não o suficiente para ser uma coisa tipo os aliens de Prometeus. Eu estava mais inclinado a um traje espacial meio como as coisas que se vê nos quadrinhos da Heavy Metal, ou do Moebius.
Uma coisa que eu curto nos desenhos do Moebius é que alguns personagens usam uns chapéus muito lucos.
Mas eu não estava disposto a coiar o Moebius. Também voltei atrás na cabeça alongada. Percebi que ela não precisava efetivamente ser alongada, mas que poderia ter alguma coisa que levasse o primitivo a pensar que a cabeça de seu deus espacial era alongada e assim eles tentariam precariamente alongar seus crânios amarrando-os na tentativa de parecer mais com o visitante espacial.
Então comecei a planejar um tipo de chapéu de astronauta que fosse alongado, mas que permitisse ver que na verdade não era. Também comecei a pensar nessa tecnologia tão fenomenalmente à frente do que conhecemos que dispensaria controles manuais, de modo que imaginei que o traje estaria integrado ao corpo do astronauta alienígena numa forma que pudesse ser representada claramente. Então eu sabia que isso poderia ser feito com conduítes ligando o traje ao cérebro! Mas não poderia ser nada grotesco.
Comecei a pensar no chapéu e de cara tive duas ideias de chapéus estranhos que se fundiram:
E outra grande influência para o design, o chapéu da Nefertiti:
O próprio busto da Nefertiti já faz ela parecer um alien. O busto tem uma elegância e majestosidade que explica porque essa é uma das mais importantes e famosas estátuas egípcias já descobertas. Esse colar cheio de detalhes, o longo pescoço, tudo isso serviu como uma base conceitual para a construção da minha peça. Eu sabia que seria um busto, (até porque um astronauta inteiro come massa pra diabo, e o dólar não tá barato, né?) e sabia que a Nefertiti tinha algo a me ensinar do ponto de vista de uma deusa e como ela deveria ser vista. (Como aprendemos em Stargate, os faraós eram considerados deuses, hehehe)
Uma coisa que curto no busto da Nefertiti é seu olhar de sono. Pense em como deve ser uma merda mandar naquele monte de gente suada e fedida. Suas pálpebras estão semicerradas, lhe conferindo um certo ar blasé. Ela está sorrindo? Alguém no topo do poder sorri?
Essa duvida me acompanhou durante boa parte do trabalho…
Continua amanhã.
hmmm, que tal uns deuses egípcios pro futuro hein? eheh
Ansioso para ver a continuação… Abraços cara
Pena ser só um busto, faz o corpo inteiro em escala menor…
Tmb queria ver de corpo inteiro!!!
seria show!
Corpo inteiro consome muito material. Seria viável se minha massa estivesse nova, mas minha massa virou pedra, e para amolecer um pedacinho que seja é um perrengue do caralho. Como não pretendo infartar fazendo boneco, tenho que me contentar com bustos. Outra questão é que bonecos muito grandes são uma merda para guardar.
Seria dahora se a roupa fosse uma espécie de escafandro daqueles bem antigos
Pensei que ia ser um post sobre os astronautas antigos, fiquei triste….
De uma certa forma, não deixou de ser.
faz um video
O problema de fazer em video é que para o video, eu tenho que ficar com a peça sempre no mesmo lugar, para que a câmera possa filmar. E geralmente eu me mexo muito eu fico mudando de posição o tempo todo, ja que esculpir consome muitas horas de trabalho. Seria um saco ficar ajustando a câmera toda hora.
poe uma gopro na testa
Boa ideia! Preciso comprar uma primeiro.